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George Cassiel

"Forum"
... soltam-se as palavras...




Friday, July 01, 2005


(...de silvia chueire)
SE EU PUDESSE


pudesse eu descolar os olhos do oceano,
onde permanecem fixos,
verdes como se fossem metáfora,
talvez eles viajassem outras viagens,
talvez lessem poemas,
talvez mirassem carinhosamente
outras paragens.

pudesse eu não ter impregnado em mim
o cheiro marítimo,
salgado, como se fosse
lágrima derramada.
talvez sentisse outros sabores,
talvez entregasse a pele a algum lábio rouco.
talvez respirasse um ar
desconhecido e louco.

pudesse eu não ter esta presença vívida,
a tua ausência cotidiana , aguda,
como se fosse fantasma
ou surto delirante,
talvez minha razão fosse outra,
talvez empreendesse uma viagem solo,
talvez alcançasse as cores todas da aquarela.

mas não,
são sempre meus os olhos no horizonte.
olhos que vagam, lassos, verdes, no oceano.

® silvia chueire


Cassiel @ 11:18 AM | 10 comments

Monday, June 27, 2005


(...de Paulo José Miranda)
PLANO DE SENTIDO


Plano de sentido. Uma dualidade do que quer ser dito que a própria gramática (lógica da linguagem) não só permite como exige. Estamos diante de uma dualidade do genitivo: subjectivo e objectivo. E apropriar-se de um ou de outro no momento de compreender a proposição em causa é opor um ao outro naquilo que pode ser o que está a ser dito. Tomemos o que «plano de sentido» diz através da sua função de genitivo subjectivo: «plano» aqui diz projecto, desenho, planta, artimanha, pode até dizer vida, já que é aquilo que alguém realiza previamente enquanto sentido; é uma intenção de vida. «Plano de vida» diz, aqui, a orientação que previamente alguém dá (traça, desenha) às coisas (para as): mas é, também, como se remetesse para uma anterioridade, um «este é o meu». «Plano» é substantivo, obviamente, aquilo que atribui substância ao «sentido», à direcção. Tomemos agora o que «plano de sentido» diz na sua função de genitivo objectivo: «plano» diz ausência de desigualdade de níveis, raso, liso, sem qualquer possibilidade de referência; é uma descrição, que pode ainda apresentar no seu interior uma duplicidade de querer dizer, enquanto facto e enquanto sentimento. Enquanto facto, a descrição «plano de sentido» diz ausência de referência para o sentido, o sentido encontra-se no chão, aquilo que se quer dizer não se ergue: é como se remetesse para um «isso é» anterior. Enquanto sentimento, a descrição «plano de sentido» diz ausência de referência para a vida, a vida, aquilo que dela se esperou encontra-se no chão, as expectativas não se erguem, não há no horizonte nenhum sinal que referencie uma alteração a esta secura de vida, a este deserto existencial: é como se remetesse para um «eu estou (sou)» anterior. «Plano» é adjectivo, obviamente, aquilo que determina (qualifica) o substantivo «sentido».
Por conseguinte, a proposição «plano de sentido» exige uma explicação, uma anterioridade. É um alguém a falar de uma coisa, de uma proposição, ou é um alguém a falar de si próprio. A gramática sem esta referência é um jogo onde abundam os batoteiros, os malfeitores, aqueles que se aproveitam da momentânea fragilidade da gramática. A fragilidade da gramática é não ter a quem servir («plano de sentido», só por si, sem nenhuma anterioridade, permite quase tudo, o que para alguém sem escrúpulos é uma festa). Abusar da gramática é coisa de malfeitores, coisa de poetas, que destroem o mundo em benefício de si próprios.
Para além da lógica há tudo e nada, não se pode dizer. Mas que diz um poema? Nada, mostra. Do mesmo modo que a forma lógica. Assim, nos antípodas da linguagem, o servilismo da gramática e a sua pilhagem, estamos face a uma mesma dificuldade: compreender porque se vê, compreender como é que é possível ver, compreender como é que aquilo que se vê não cega, compreender como é que é possível estar a ver aquilo que se não pode dizer. Na gramática (e na vida), polícias e malfeitores são incompreensões no mesmo estado.

® Paulo José Miranda


Cassiel @ 10:24 AM | 1 comments


(...de Miguel Martins)
QUADRA


tão fundo
tão findo
tão só
tão cedo

® Miguel Martins


Cassiel @ 10:21 AM | 0 comments

Friday, June 24, 2005

Primeira colaboração. 


Paulo José Miranda é poeta, escritor e dramaturgo. Licenciou-se em Filosofia pela Universidade de Lisboa. É membro do Pen Club desde 1998. Publicou três livros de poesia, quatro novelas e uma peça de teatro. O seu primeiro livro de poesia venceu o Prémio Teixeira de Pascoaes em 1997 e a sua segunda novela venceu o primeiro Prémio José Saramago em 1999. Recebeu uma bolsa de criação literária do Ministério da Cultura para escrever a sua terceira novela e uma outra da Fundação do Oriente para viver três meses em Macau e escrever a sua quarta novela. O seu último trabalho é America: um texto àcerca da América em 99 pontos (tem mais dois livros a serem publicados).

Obrigado Paulo. Com amizade.


Cassiel @ 12:25 PM | 0 comments

O Forum começa hoje! 


Este Blog embarca num novo projecto.
George Cassiel convidou um conjunto de amigos a escrever sobre literatura, edição, poesia... sobre o mundo dos livros.
E eles aceitaram!
Em breve surgirão aqui os primeiros textos.
Não percam.


Cassiel @ 11:05 AM | 12 comments

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